No sábado (23), aconteceu a 2ª Edição do Festival Surdolímpico em Campo Grande, com o objetivo de promover o esporte para pessoas surdas do Mato Grosso do Sul. A ideia é pioneira e quis estimular o aprendizado de modalidades surdolímpicas em Libras (Língua Brasileira de Sinais) para promoção da saúde, lazer ou competição.
O projeto faz parte das ações da Gerência de Paradesporto da Fundesporte (Fundação de Desporto e Lazer), ligada à Setesc (Secretaria de Estado de Turismo, Esporte e Cultura). Foram ministradas oficinas de atletismo, voleibol e basquetebol em Libras por professores de Educação Física surdos que são atletas das modalidades.
No atletismo, foram abordados e praticados os saltos, arremessos, corrida de 100 metros e corrida com obstáculos. No voleibol, foram ministrados os fundamentos do toque, manchete e a parte coletiva. No basquete foram treinados os fundamentos iniciais, arremesso de dois pontos e de três pontos. O Festival contou com a presença de mais de 100 pessoas.
A surdez em si não implica em restrições à prática de atividade física e não existem esportes mais ou menos adequados para surdos. Entretanto, as limitações linguísticas e comunicacionais podem dificultar a compreensão e o relacionamento, interferindo na aprendizagem e no comportamento do indivíduo.
Os participantes foram divididos em três grupos, revezando nas modalidades, para que pudessem aprender sobre todos os tipos de esportes oferecidos. Os professores de Educação Física, Maurisclei Nascimento de São José dos Pinhais, responsável pelo voleibol, Raquel Couto de São Paulo, responsável pelo atletismo e Felipe Ceresini de Ribeirão Preto, responsável pelo basquetebol palestraram no evento contando um pouco de suas trajetórias no esporte de surdos.
E também Rivair Souza, douradense, campeão nacional de boliche na Surdolímpiada Nacional contou um pouco da sua trajetória na conquista do ouro em Londrina.
Para o diretor-presidente da Fundesporte, Herculano Borges, o objetivo é dar cada vez mais suporte para que as pessoas surdas tenham acesso ao esporte. A Fundesporte apoiou a Surdolimpíada Nacional em Londrina, onde Rivair Souza conquistou o primeiro lugar no boliche e agora vai participar da Surdolimpíada Mundial em 2025.
“Queremos intensificar o apoio. Será possível graças à organização da Federação Desportiva de Surdos de Mato Grosso do Sul e aos clubes que fazem parte da federação. Nós queremos levar este ano recursos e capacitações para o interior do estado, para a formação de novos clubes, fortalecer a federação, fortalecer os clubes, para que nas outras oportunidades possamos aumentar o quantitativo de atletas que vão representar o Mato Grosso do Sul, na Surdolimpíada Nacional e também na Mundial”, frisa Herculano.
Atletas
Flávia Martinez, 36 anos, praticante de futsal e voleibol de praia, é surda. Ela destaca a prática de esporte junto com os ouvintes e que, apesar da barreira linguística, não se sentia excluída na prática esportiva.
“Participei como goleira do futebol de salão, junto com os ouvintes, sem problemas com a inclusão. Também pratico vôlei de praia e não quero parar. Desde cedo sempre pratiquei, não tenho preguiça, continuo treinando porque me ajuda no corpo e na saúde”, destaca Flávia.
Sobre o evento, ela ressalta: “Gosto muito desse ambiente no Vila Almeida. É importante todos os surdos estarem aqui no Festival Surdolímpico, para a inclusão. Todos participando, tendo contato. Futuramente, os surdos também vão competir e treinar as modalidades, vão querer praticar. Isso é possível assim”, frisa a atleta.
Já Samuel Ferreira da Silva, 51 anos, pratica o futebol de campo e também é treinador. Para ele, o evento deve mostrar à sociedade que o surdo é ativo e pode estar em todos os lugares.
“Com o apoio do governo, o movimento do surdo está aumentando. Antes, o surdo não tinha nada para fazer. Agora, nós temos este evento muito importante. Eu sempre gostei de várias modalidades. Comecei desde criança, fazendo capoeira, karatê, judô. Também já joguei futsal junto com os ouvintes. Hoje, com 51 anos, não parei. Continuo treinando, movimentando o corpo. Sou técnico também de futebol de surdos, de campo, e também sou atleta aos domingos”, salienta.
Comunicação Fundesporte, Bel Manvailer
Fotos: Daniel Reino/Setesc