Campo Grande (MS) – Em Mato Grosso do Sul, estado com a segunda maior população indígena do país, com mais de 70 mil habitantes, o esporte está inserido nas comunidades de povos tradicionais. O Governo do Estado, por intermédio da Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul (Fundesporte), tem desenvolvido ações que visam fomentar a prática desportiva, principalmente entre crianças e jovens, preservando a cultura e tradições indígenas.
Por meio do Programa MS Desporto Escolar (Prodesc) – Treinamento Desportivo, desenvolvido pela Fundesporte em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (SED), a Escola Estadual Indígena Mbo’eroy Guarani Kaiowá, localizada na Aldeia Amambai, a cinco quilômetros do município de mesmo nome, há anos revela grandes atletas e tem se tornado referência no estado, especialmente no atletismo e futsal. Além destas modalidades, o basquetebol e o futebol de campo também são praticados.
Alguns atletas já despontam em competições a nível estadual, nacional e até internacional, carregando as cores da bandeira de Mato Grosso do Sul. “Nosso principal objetivo é ver o atleta indígena sul-mato-grossense disputar um campeonato brasileiro, sul-americano e mundial. Isso tem acontecido e é motivo de muito orgulho para nós”, revela Miller Borvão Samorio, profissional credenciado pelo Prodesc e um dos responsáveis pela descoberta e lapidação de talentos na comunidade em Amambai.
Orgulho este, afirma Samorio, que representa não só a etnia Guarani-Kaiowá, mas também as outras sete presentes no estado: Atikum, Guarani-Ñandeva, Guató, Kadiwéu, Kiniquinau, Ofaié e Terena. Segundo o professor de Educação Física, “o esporte também é uma ferramenta importantíssima para nós, porque através dele reduzimos os índices de violência e também de evasão escolar”.
No atletismo, Yuri Moreira Benites é a principal revelação da aldeia. O atleta de apenas 15 anos lidera o ranking nacional e sul-americano sub-18 no lançamento do dardo. No ano passado, garantiu o segundo lugar no Campeonato Brasileiro Sub-18 de Atletismo. Em 2019, Benites faturou o bicampeonato brasileiro do dardo, na categoria de 12 a 14 anos, dos Jogos Escolares da Juventude – Fase Nacional, em Blumenau-SC. No mesmo ano, o amambaiense assegurou a prata no Campeonato Brasileiro Sub-16 de Atletismo, em Fortaleza-CE.
O expressivo desempenho do lançador em competições nacionais o assegurou na seleção brasileira de base, formada pela Confederação Brasileira de Desporto Escolar (CBDE), para a disputa do 15º Campeonato Sul-Americano Escolar, realizado no final de 2019 em Assunção, capital do Paraguai. Na competição internacional, o jovem indígena trouxe a medalha de ouro para o Brasil.
Coletivamente, o futsal feminino escolar da comunidade se sobressai. Mato Grosso do Sul, em duas ocasiões (2016 em João Pessoa-PB e 2019 em Blumenau-SC), foi representado pelas meninas da escola indígena local na etapa nacional dos Jogos Escolares da Juventude.
O diferencial da equipe está na habilidade individual das atletas, que têm facilidade em driblar, segundo o técnico Miller Samorio. O grupo de garotas é conhecido por jogar com pinturas pelo corpo, como forma de manter e fortificar as raízes da cultura Guarani Kaiowá. “A pintura e a língua são nossa identidade. Tem a ver com a espiritualidade também. Quando as meninas vão aos Jogos, a primeira coisa que elas combinam é de se pintarem antes de entrar em quadra”.
As pinturas possuem vários significados, mas o principal é dar força e motivação nas disputas. “Cada uma tem uma forma diferente e depende do momento também. Para entrar em quadra, elas se pintam com a intenção buscar algo, entramos como se fosse uma ‘guerra’, para vencer”, finaliza Samorio.
Lucas Castro – Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul (Fundesporte)
Foto de destaque: William Lucas/Inovafoto/COB