Campo Grande (MS) – O Ginásio Poliesportivo Avelino dos Reis, o popular Guanandizão, voltará a trilhar o caminho dos grandes eventos esportivos e culturais, graças ao projeto de reforma geral e adequação realizado pelo Governo do Estado de Mato Grosso do Sul, junto à Prefeitura Municipal de Campo Grande. Pela principal praça coberta da Capital já passaram atletas de renome, além de inúmeros artistas do cenário da música nacional e internacional.
Lançado em 1984 pela gestão do então governador Pedro Pedrossian, o “templo” símbolo do esporte sul-mato-grossense é conhecido até hoje por seu formato imponente, semelhante a um disco voador que, mesmo de longe, chama atenção aos olhos de quem transita pela avenida Ernesto Geisel, na região da Vila Nhanhá.
A estrutura criada, moderna para os padrões da época, colocou Campo Grande no radar de competições “de peso” do calendário esportivo brasileiro, abrigando em várias oportunidades a seleção tupiniquim, seja de voleibol, futsal, handebol ou de esportes individuais, como a ginástica artística. Além disso, foi no ginásio que incontáveis talentos foram revelados nas categorias de base de diversas modalidades, por meio de projetos sociais de iniciação e treinamento desportivo.
O Guanandizão ficou inativo por sete anos. Após vistorias, o Corpo de Bombeiros Militar, em 2013, constatou falhas no sistema hidráulico e falta de estrutura de controle e prevenção de incêndio. A última apresentação, no mesmo ano de interdição, foi o show do cantor Roberto Carlos.
Segundo o diretor-presidente da Fundação de Desporto e Lazer de Mato Grosso do Sul (Fundesporte), Marcelo Ferreira Miranda, as obras estão praticamente concluídas. No entanto, não há como prever a data de reinauguração, devido à paralisação das atividades esportivas e medidas sanitárias restritivas, dentre elas a de não aglomeração, em função da pandemia do novo coronavírus (Covid-19).
“Por tudo que representa o ginásio Guanandizão para a nossa Capital, queremos inaugurá-lo com um grande evento esportivo, marcante, convocando a população campo-grandense a prestigiar o retorno desse espaço tão significativo para nossa história, que marcou toda uma geração e, agora, terá novos capítulos”, explica Miranda.
Nasce um time
O ginásio é parte elementar da história esportiva nestes 121 anos de emancipação de Campo Grande. Mais do que atrair eventos de relevância nacional e internacional, o Guanandizão por muitos anos propiciou suporte infraestrutural a clubes e atletas, por possuir principalmente vestiários e alojamentos com capacidade para cerca de 100 pessoas. O “disco voador” viu em suas dependências surgirem equipes que despontaram não só pelo Estado, mas Brasil afora.
No voleibol, por exemplo, a principal força sul-mato-grossense até hoje foi a Copaza, equipe formada na década de 1980, financiada por uma empresa privada distribuidora de gás. No cenário nacional, mais especificamente no Campeonato Brasileiro de Clubes, o time sobressaiu-se frente a agremiações de expressão como Pirelli, Minas e Atlântica/Boavista.
Como mandante no Guanandizão, o clube chegou a ficar entre os três melhores do país, de 1984 a 1987, trazendo para Mato Grosso do Sul, inclusive, o terceiro lugar inédito na Copa do Brasil de 1985. “Entre as duas partidas de semifinais da Copa do Brasil deste mesmo ano, mais de 15 mil pessoas se reuniram no Guanandizão, fazendo com que o clube faturasse 120 milhões de cruzeiros, a maior arrecadação do país e 10 vezes maior do que dos times de futebol”, descreve “Na Linha dos Três”, documentário do jornalista Carlos Yukio Kamiyama, que narra a histórica trajetória da equipe campo-grandense.
Além das boas campanhas em campeonatos brasileiros, a Copaza relevou Carlão e Pampa, que ajudaram o Brasil a conquistar o ouro olímpico em 1992. Serginho, Marcelo, Bozó, Galina, Pézão, Mario Marcio e Tigresa completavam o plantel. Com a reentrega do ginásio totalmente revitalizado pelo Governo do Estado, episódios como este podem se repetir nos próximos anos.
Competições “de peso”
O público sul-mato-grossense também lotou o ginásio em outras ocasiões. Em 2004, a seleção brasileira masculina de vôlei fez sua última apresentação em Campo Grande, contra Portugal, pela Liga Mundial (hoje, Liga das Nações).
A torcida foi ao delírio e apoiou o Brasil em dois confrontos, ambos vencidos com certa tranquilidade pela equipe comandada pelo técnico Bernardinho, por 3 sets a 0, com duração de aproximadamente uma hora cada. A festa dos torcedores só ficou completa após a entrada de Giovane e Maurício a dois pontos do final da segunda partida, pedido feito das arquibancadas e prontamente atendido por Bernardinho, conforme veiculou o UOL Esporte à época.
Brasil e Itália enfrentaram-se, em partidas amistosas, cinco anos depois, nos dias 17 e 19 de dezembro, na Capital, com entrada franca. Desta vez, no handebol, com dois duelos válidos pelo Desafio Petrobras de Handebol Masculino. No primeiro confronto, vitória dos europeus por 30 a 28 e empate em 26 gols no segundo jogo. Este foi o último compromisso da seleção olímpica brasileira em 2009, após terminar o Mundial, realizado na Croácia, em janeiro, na 21ª colocação. O Desafio também serviu de preparação para o Campeonato Sul-Americano do ano seguinte.
Não são só as modalidades coletivas que já ocuparam e movimentaram o principal Poliesportivo da Capital dos Ipês. A etapa classificatória do Troféu Brasil de Ginástica e o Circuito Caixa de Ginastica Artística e Rítmica levaram quase duas mil pessoas às arquibancadas, de 27 a 30 de maio de 2010. Na quadra, os eventos reuniram grandes nomes da ginástica olímpica, tais como Diego Hypólito, Mosiah Rodrigues, Arthur Zanetti, Sérgio Sasaki, Daniele Hypólito, Jade Barbosa, Ethiene Franco e Khiuani Dias. Já na rítmica, presenças de Elaine Sampaio, Rafaela Costa, Anita Klemann, Ana Paula Scheffer e Angélica Kvieczynski.
De Menudo a Roberto Carlos
Ao som do hit “Não se reprima”, o ginásio Guanandizão recebeu milhares de fãs em 1985, que acompanharam o show do Menudo, grupo musical porto-riquenho de pop latino que virou “febre” na década, especialmente nas Américas. A apresentação da boyband estrangeira em Campo Grande, cujo quinteto era composto por Robby Rosa, Charlie Massó, Roy Rosselo, Ray Reyes e Ricky Meléndez, é recordada com alegria e nostalgia por uma geração de pessoas que, hoje, tem entre 35 e 55 anos de idade.
Uma delas é a empresária Florinda Barbosa, de 48 anos, que enfrentou fila extensa e comprou um dos primeiros ingressos para o show, conta. “Acompanhei, desde o aeroporto, a chegada dos menudos. O show foi um espetáculo de outro mundo. Na época, eu e minhas irmãs, que éramos ‘fãs de carteirinha’ da banda, não acreditávamos que eles estavam ali tão próximos”, relata. “Lembro que o Guanandizão era a ‘casa’ de grandes eventos. Consigo lembrar com detalhes de alguns shows e jogos da seleção de vôlei que fui e espero que mais pessoas possam ter essa oportunidade, agora com a reforma”, completa.
Outras atrações musicais ficaram marcadas na história, com shows de artistas renomados do cenário nacional. A solenidade de abertura do ginásio em 1984, por exemplo, contou com a participação de Rita Lee e Alceu Valença. Por ali também passaram Legião Urbana, Titãs, Xuxa Meneghel, Amado Batista, além das festas de Carnaval promovidas na cidade. Arrastando uma multidão de seis mil vozes, o cantor Roberto Carlos foi o último a se apresentar no local, antes da interdição, em novembro de 2013.
Para o diretor-presidente da Fundesporte, Marcelo Ferreira Miranda, o objetivo é proporcionar novos momentos para ficarem registrados na memória dos campo-grandenses, além de movimentar a economia local. “Toda uma geração foi muito marcada com eventos culturais e esportivos no Guanandizão. Sempre que se revitaliza um ‘templo’ importante como este, além de proporcionar à população opções de lazer, programas de esporte, shows, mexe-se também com o imaginário, o saudosismo”.
“Economicamente, eventos de grande porte, que poderemos voltar a sediar após a reinauguração, movimentam uma cadeia produtiva significativa, ajudando a rede hoteleira, restaurantes, transporte e o comércio, principalmente no momento importante de retomada que será o pós-pandemia. É mais uma oportunidade para injetarmos investimentos na economia local”, acrescenta.
Liga das Nações confirmada em 2021
Um evento, com data definida, que movimentará a economia é a Liga das Nações de Voleibol. O avanço da pandemia de Covid-19 impossibilitou a realização de etapa do torneio internacional neste ano, cancelada em maio pela Federação Internacional de Voleibol (FIVB, na sigla em inglês). O megaevento, com as seleções masculinas de Alemanha, Brasil, Itália e Rússia, estava agendado para acontecer entre os dias 19 e 21 de junho e marcaria a reabertura da praça esportiva.
Todavia, o governador Reinaldo Azambuja assegurou a intenção de sediar a Liga em Campo Grande em 2021. Os jogos ocorrerão de 4 a 6 de junho. A FIVB, por intermédio da Confederação Brasileira de Voleibol (CBV), já havia priorizado a Capital sul-mato-grossense para receber a competição. O chefe do Executivo estadual também reiterou o compromisso do convênio firmado junto à CBV, via Federação Estadual de Voleibol (FVMS), com repasse de R$ 1,3 milhão de recursos próprios para custear o torneio.
Para o relançamento do Guanandizão ainda em 2020, há expectativa em trazer a Supercopa Brasileira de Voleibol, organizada pela CBV, que coloca frente a frente os campeões da Copa Brasil e os vencedores da atual edição da Superliga Banco do Brasil. As datas previstas pela entidade nacional são 30 de outubro (masculino) e 6 de novembro (feminino), com cobertura televisiva.
“Ainda não tem nada confirmado. Recebemos o convite da Superintendência de Competições de Quadra da CBV para sediar esse torneio mais para o final do ano, para ser o evento-teste do novo Guanandizão. Estamos analisando essa possibilidade, lembrando que tudo vai depender da curva epidemiológica da Covid-19 no Estado”, pontua o titular da Fundesporte.
Obras finalizadas
A ordem de serviço para a reforma do Guanandizão foi assinada entre o governador Reinaldo Azambuja e o prefeito de Campo Grande, Marcos Marcello Trad, no dia 31 de janeiro de 2019. Inicialmente orçado em R$ 2,387 milhões, o projeto de execução e requalificação de espaços internos e externos do complexo foi licitado em R$ 1,881 milhão – economia superior a meio milhão de reais.
Na parte interna, onde ocorrem as principais atrações do complexo e é capaz de comportar 8.240 pessoas, a quadra foi preparada com materiais de alta tecnologia, que acompanham palcos esportivos de ponta pelo mundo: revestimento com piso emborrachado de poliuretano em elastômeros duráveis e adesivos de alto desempenho, além de pisos de taco ao redor.
O espaço também teve banheiros, lanchonetes, salas administrativas e vestiários revitalizados, instalações de lâmpadas de LED, reforma completa do teto, troca e nova pintura em amarelo, azul, verde e vermelho dos assentos e arquibancadas, além da instalação de novo sistema elétrico e hidráulico. Adaptações foram feitas para garantir acessibilidade a pessoas com deficiência e segurança exigida pelo Corpo de Bombeiros. As intervenções de melhorias estão alinhadas ao padrão internacional de eventos.
Já no setor externo, as quadras poliesportivas receberam novo alambrado e iluminação. O campo de futebol anexo ao ginásio teve a grama trocada e a caixa de areia, para a prática de vôlei de praia, passou por manutenção. A pista de caminhada e a academia ao ar livre também foram revitalizadas, e o calçamento externo foi totalmente reconstruído.
Texto: Lucas Castro/Fundesporte e Silvio de Andrade/Subcom Governo MS
Foto de destaque: Edemir Rodrigues/Subcom Governo MS