Bem-estar na velhice
Por Fabiane Macedo*
A velhice traz a narrativa simples de um percurso complexo do desenvolvimento do ser humano. As aproximações deste ciclo, a dita terceira idade, indicam o quão os movimentos físicos, cognitivos, afetivos e espirituais se estabeleceram na (in)constância da vida. A partir do entendimento de que o movimento é a energia que leva a in-tensa-ação de fenômenos e acontecimentos, este texto objetiva aproximar o pensar sobre a ação geradora do bem-estar na velhice.
O bem-estar nesta fase da vida relaciona-se com as características da pessoa e do ambiente em que se experienciou ao longo dos anos. Integra-se neste campo a motivação, as crenças, os valores, a valorização, as condições de trabalho, as relações interpessoais, a realização pessoal e profissional, além do sentido e significado percebido pela pessoa.
O campo do bem-estar e da atividade física na velhice têm a medida dos fatores de satisfação e insatisfação dispostos na combinação de muitas variáveis, tal como a predisposição para a prática continuada de exercícios físicos, hábitos alimentares saudáveis e sentimentos que denotam estados cognitivos e emocionais positivos sobre a vida.
Os sentimentos positivos, avaliação cognitiva e emocional estabelecem o contentamento, a afeição, a alegria e o prazer na/para a realização de atividades. Sabido que esta avaliação é dependente de situações internas e externas, razão pela qual diante da diversidade o ser humano se aproxima e/ou se afasta dos processos de desenvolvimento dinâmicos construídos principalmente nas suas relações interpessoais.
O bem-estar na velhice indica as experiências de satisfação na complexidade das ligações da qualidade de vida e da prática da atividade física, das questões decorrentes das mudanças do estado físico, cognitivo e emocional dos fatores de realização de tarefas, e das condições objetivas para o enfrentamento (des)favorável das tramas sociohistóricas que representam o velho e produto-atividade na contemporaneidade.
A compreensão da relevância da atividade física na/da velhice indica a necessidade de se avaliar três fatores: as características da pessoa (disposições das crenças, valores, aptidões e habilidades); as características do ambiente (as condições físicas, socioeconômicas e relacional) e as características da tarefa (as exigências biomecânicas, fisiológicas e interpessoais).
Estes três fatores marcam a singularidade e a (in)dissociabilidade dos componentes facilitadores do bem-estar na velhice de forma que as necessidades, as expectativas e os desejos sejam avaliados por cada pessoa, com níveis de satisfação positiva, de modo a se tornar um agente facilitado ao engajamento e à permanência na prática constante da atividade física.
Entende-se, assim, que a satisfação positiva da prática da atividade física ao longo da vida torna-se uma disposição individual do sujeito na velhice, conectando as condições externas e internas favorecedoras dos mecanismos de engajamento, conquistas, satisfações, vínculos e prazeres vivenciados na in-tensa-ação no/pelo movimento humano.
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* Fabiane de Oliveira Macedo é graduada em Educação Física e especialista em Motricidade Humana pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e doutora em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Atualmente, é assessora especial da presidência da Fundesporte.