Mito no esporte: Mulheres e o desempenho esportivo com a maternidade
Por Fabiane Macedo*
O “Mito no esporte: mulheres e o desempenho esportivo com a maternidade” é um texto que compõe a escrita de reflexões pensadas para o mês de maio, com o objetivo de dissertar sobre (de)marcações construídas na sociedade em torno do esporte de rendimento protagonizado a partir de uma força da ontogenia e da filogenia da condição humana (des)vinculadas da realidade da mulher: o desejo de ser mãe. A equação mulher, maternidade e desempenho esportivo precisa ser decodificada no imaginário de pessoas do contexto esportivo, sejam estas os treinadores, empresários, os meios de comunicação e até mesmo a atleta.
Sabe-se que importantes atletas trazem consigo um emaranhado de processos que conduzem a escrita de suas narrativas, sendo estes determinantes de grandes marcos em suas carreiras e que, por vezes, são colocados em dúvida quando trazem a possibilidade de agregar a este emaranhado a maternidade. A maternidade de atletas torna-se o centro de atenção devido às dúvidas trazidas das possíveis complicações da manutenção ou evolução do desempenho esportivo principalmente pós-parto.
As (de)marcações em relação à maternidade e o desempenho esportivo estão em torno da territorialidade das variáveis do treinamento desportivo, tais como: o tempo e o espaço do na vida da mãe/atleta; b) as condições das condições físicas, psíquicas e emocionais da mãe/atleta; e a identidade, motivação, ansiedade, estresse e depressão da mãe/atleta. Deste modo, percebe-se que estas variáveis postas em questão não podem ser controladas pelas pessoas que compõem as relações interpessoais, profissionais e empresariais da mãe/atleta, o que gera a ideia de “mito”, ou seja, proposições de origens de coisas que possivelmente sustentam o produto, o objeto, a finalidade do (sub)julgamento dos poderes da mãe/atleta.
Ao olhar para mãe/atleta, ainda há um deslumbre de legitimá-la, com uma natureza do belo, do leve, do angelical, do frágil, do sensível desarticulado da garra, força, coragem, resistência, resiliência e maturidade. Sendo posto um antagonismo entre personas. O que é pequeno e raso quando busca-se compreender o universo que há na mãe/atleta.
Nesta dimensão, mãe/atleta, sistemas complexos de permissões e proibições paradoxais precisam ser (re)vistas. Explicações simples e profundas podem ser feitas ao analisar o comportamento gerado com a maternidade, poderes estaqueados biologicamente precisam ser considerados positivos para o desempenho esportivo, e não o determinismo angelical sob a condição posta a mãe/atleta.
Considera-se dentre tantas questões a serem (re)discutidas no contexto dos esportes de rendimento no mundo contemporâneo, talvez as problematizações sobre a mãe/atleta seja ainda a que conduz caminhos do mito. Desmitificar mito envolve processos duradouros e profundos sob o comportamento humano em uma determinada sociedade, observando o recorte de tempo, construção social, cultural e econômico. Para tanto, a adoção de reflexões pode movimentar e (des)estabilizar barreiras, estacas, territórios que foram importantes até hoje para a mãe/atleta.
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* Fabiane de Oliveira Macedo é graduada em Educação Física e especialista em Motricidade Humana pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS); mestre em Ciência do Movimento Humano pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC) e doutora em Educação pela Universidade Católica Dom Bosco (UCDB). Atualmente, é assessora especial da presidência da Fundesporte.