Robson Conceição não tinha sonhos grandes. Invocado, queria ser que nem o tio Roberto, famoso por brigar na rua. Virou o “Terror” do bairro humilde onde nasceu, em Salvador. Ao descobrir o boxe, trocou os socos nas ruas pelos ringues e viu que poderia sonhar mais alto. Para alcançá-los, ralou. Foi feirante, vendeu picolé na praia, foi ajudante de pedreiro… Perdeu na estreia em duas Olimpíadas, Pequim 2008 e Londres 2012. Mas o destino lhe guardava algo grandioso. Na insistência e no talento, virou campeão olímpico. Em casa. Com o Pavilhão 6 do Riocentro pulsando, ele derrotou o francês Sofiane Oumiha por decisão unânime, com 3 a 0 (30-27, 29-28 e 29-28) na noite desta terça-feira. Aos 27 anos, colocou seu nome na história ao conquistar a primeira medalha de ouro do boxe brasileiro nos Jogos Olímpicos. Hoje, não é mais o “terror”. É o orgulho de Boa Vista. Orgulho de Salvador. Orgulho da Bahia. Orgulho do Brasil.
– Estou vivendo um sonho. Agradeço ao povo brasileiro pelo apoio. Ainda não caí na real. Tive uma infância humilde, mas graças a Deus, nunca me faltou o pão de cada dia. E essa minha luta diária, de acordar cedo, ir para a escola e ajudar a minha avó na feira, hoje, foi recompensada por isso. Hoje sou campeão olímpico! Agradeço a todos que me apoiaram, às mensagens positivas, ao bairro de Boa Vista de São Caetano… Essa medalha não é só meu sucesso, é sucesso de minha família, meus amigos, treinadores… – celebrou.
Para alcançar o maior resultado do país na nobre arte em Olimpíadas, Robson batalhou. Tanto em Pequim, 2008, quanto em Londres, 2012, perdeu na primeira luta. Aprendeu com os tropeços e esbanjou serenidade no Rio. Convenhamos, não deve ser fácil disputar uma competição deste porte. Imagine uma final olímpica. Mas este baiano, cada vez que entrava no ringue, impressionava pela serenidade. O ringue, na verdade, virou o quintal de sua casa, como o que utilizou para aprender os primeiros socos com seu primo, ainda na infância.
– Nas outras duas edições, eu era muito jovem, não tinha muita experiência. Agora, com a ajuda da confederação (de boxe), que vem me apoiando muito e me levou para vários campeonatos, eu consegui pegar muita experiência. E agora, graças isso, eu sou campeão olímpico hoje. Primeiro pugilista campeão olímpico do Brasil. Agora quero festa em Salvador! – declarou.
A trajetória até a decisão
Robson Conceição foi soberano em sua campanha até a decisão. Além de conseguir um nocaute técnico na estreia, venceu seus outros oponentes por decisão unânime. O GloboEsporte.com agora relembra os confrontos que o brasileiro teve durante a Olimpíada Rio 2016.
– O fim da maldição da estreia
Estrear em Olimpíadas não trazia boas lembranças para Robson Conceição. Nas duas anteriores, Pequim 2008 e Londres 2012, foi eliminado na primeira luta. Mas não dava para cogitar essa possibilidade na Rio 2016. Ele precisava vencer e desejava convencer. E concluiu com maestria. Contra Anvar Yunusov, do Tajiquistão, o brasileiro precisou de apenas um round para celebrar o triunfo. Após domínio no primeiro assalto, Yunusov não voltou para o segundo por conta de uma lesão na mão direita e abriu caminho para o baiano avançar para as quartas de final.
Fonte: G1.com